quarta-feira, 13 de julho de 2011

Memórias seguras

Tudo que eu mais queria agora era um território seguro. Um pedaço de memória onde você não existe. Fazer parar essa dor que sangra, dilacera, abre meu coração e me deixa em corda bamba, sem saber o que vem depois. Posso pisar aqui? Será seguro? 
Quando o assunto se trata de nós, não existe garantia, prazo de validade,ao menos segurança. 
Ando em círculos, rezo, faço promessa, peço pr'os Santos e Santas, faço uma troca com Deus, vou até a janela do quarto acendo um cigarro, converso com as estrelas, tomo um gole de vinho que serve como anestesia, mas a dor continua, por isso procuro na memória um tempo que você ainda não fazia parte dos meus planos, dos meus sonhos, da minha vida. Lá tudo era estável, sem graça, mas era seguro e não tinha dor. 
Como eu podia saber que você chegaria logo em seguida e transformaria tudo ao meu redor? Inclusive a minha paz.
Na verdade é melhor que continue assim mesmo, se eu quero segurança, não posso procurar por amor, não que um exclua o outro, mas um não garante o outro. Pronto, é melhor arriscar, deixo o território seguro no pedaço de memória quando tudo era paz, sempre que for preciso, fecho os olhos e me agarro nessa lembrancinha, paro de sentir a dor por um breve período de tempo e depois, ah! depois deixo pra caixa mágica do tempo resolver!

terça-feira, 12 de julho de 2011

Jardim de Maria

Ela tentava encaixar sua realidade à vida real, pra fazer acontecer a felicidade tão sonhada.
Então insistia em cultivar um jardim no asfalto. Ela queria ver nascer uma flor linda no meio do cimento duro e frio, por isso ela semeava flores e sementinhas para transformar e fazer caber dentro da sua caixinha de vida real a sua vida imaginária. 
Feliz? Sim, ela era feliz. Mas um dia um jardineiro experiente disse a ela: Maria, nunca vai florescer no seu jardim, ele será sempre um asfalto duro e frio, sem vida e sem cor. Mas ela não queria entender ou mesmo escutar os conselhos do jardineiro, Maria queria ver florescer no seu jardim imaginário de asfalto. 
Teimosa que era, ficou ali por um longo tempo, sem nunca ver uma flor, grama ou qualquer sinal de vida no seu jardim, por ser teimosa e insistir na história que ela queria contar, Maria perdeu um bom tempo cultivando um jardim de cimento, sem vida, sem cor, sem cheiro... 
Cansada, ela foi procurar um lugar que coubesse seu jardim, que ele pudesse ser cultivado para que logo ficasse todo florido e perfumado, enfim, Maria encontrou seu lugar. Sem precisar se esforçar muito, sua realidade se tornou um lindo jardim, e hoje ela não precisa encaixar, apertar, espremer a realidade pra fazer caber dentro dos seus sonhos, ela entende que é natural, acontece como precisa acontecer, desde que ela não deixe de cultivar o jardim, que agora sim, está no lugar certo pra florescer.


quinta-feira, 7 de julho de 2011

Talvez seja assim.. por enquanto resta dúvida!

Reticências
Por Maria

Procura-se alguém que se divirta sem a indecisão do pré e o remorso do pós. Alguém que faça o que quer por escolha, e não vingança ou punição. Alguém que tenha idade para decidir e juízo para responder pelas escolhas. Alguém que se permita o novo, sempre e todos os dias. E que o novo seja o divertido, mas não necessariamente o irresponsável. Alguém que não seja inexperiente para se arrepender, nem experiente demais para desenhar qualquer fim antes do começo. Alguém que seja capaz de sintonizar o coração com o que deseja, e a custo de somente sua vida, ir à busca do que almeja. Alguém que tenha fugido do previsível e tenha conseguido se divertir sem acumular frutos de insensatezes. Mas que tenha guardado para o bem de todos e alegria geral da nação, os melhores frutos das mais tolas loucuras. Procura-se insensatos legítimos, que tenham o delírio por escolha e não consequência. Alguém que tenha descoberto que o grande mistério é não ter segredo algum. Alguém que saiba se divertir, sem culpar ninguém por isso. Alguém que entenda que liberdade permite tudo, mas também não exige depois. Procura-se alguém que queira se divertir para a vida toda, por um dia somente. Ou um pouco mais. (...)


Muito lindo esse texto, veio do blog "E agora, Maria?" Muito lindo e parece comigo, geral!



Sentimento que existe?!

Já sentiu falta de algo que nunca teve?

(...)

Como se visse alguém beber água e descobrisse que tinha sede profunda e velha. Talvez fosse apenas falta de vida: estava vivendo menos do que podia e imaginava que sua sede pedisse inundações. Talvez apenas alguns goles (...).

Clarice Lispector in Perto do Coração Selvagem

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Mulheres fabricadas



Amanhece, café pra fazer, notícias no jornal, roupa dela e do marido prontas em cima da cama. Café pronto, filhos na escola, trânsito, trabalho, chefe de mau humor, cliente não satisfeito, vontade louca de sair correndo e largar o mundo pra trás, assim, tipo dar uma rasteira e um foda-se bem grande pro mundo todo. 
Mas as mulheres casadas são mulheres fabricadas. Super poderes. Mãe, mulher, operária, irmã, amiga, filha e ela ainda consegue ser uma princesa, oferece um belo jantar regado a vinho, boas risadas, conversas triviais, filhos de pijama dormindo feito anjos, marido a espera do "amor". 
Estão sempre lindas, radiantes, felizes. O mundo cai lá fora, mas as mulheres casadas são fabricadas para serem felizes, pelo menos é o que dizem as tias: como vai sua vida amorosa querida? Não esqueça, tic-tac, o relógio está batendo.
Mulher casada é sinônimo de mulher feliz, não que isso seja verdade, você acredita em tudo que ouve, lê ou vê?! 
Agora consigo entender Chico Buarque quando ele diz: ..."futucando bem, todo mundo tem piolho"... (Ciranda da bailarina).
Eu sou uma mulher fabricada pra ser feliz com o que eu tenho. Eu tento, às vezes eu não consigo, ser feliz em período integral é coisa pr'a mulher casada, aquela fabricada pelo marido-herói, que nunca deixará uma lágrima sequer cair do olhar da grande mulher fabricada para o casamento. Tim-tim, um brinde aos rótulos. Sou solteira, sou feliz, sou mulher fabricada não para o casamento, pelo menos agora, no momento sigo os conselhos da mestra Clarice Lispector: me ocupo em ser feliz, mulher-casada como todo o resto é consequência.


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